top of page

_vozes,da série língua de gado|
 

a a img_4265.jpg

"Vozes, da série língua de gado"
Fernando Aidar | 2018/9 | instalação | línguas de porcelana, carvão vegetal, materiais diversos.

Essa instalação foi aprovada em 2020 no salão Arte Londrina 8: nunca como agora. A historiadora da arte Liliane Benetti escreveu um texto para compor o catálogo da exposição:

Texto Lili

A começar pela escolha do título de sua instalação, “vozes, da série língua de gado”, as operações poéticas articuladas por Fernando Aidar se mostram inextricáveis de uma dimensão política. “Gado”, afinal, não é termo que passe incólume a nós, implicados em nosso tempo histórico e ainda imersos nas circunstâncias sociais que tornaram a palavra um jargão. Língua, nos diz Roland Barthes em uma das páginas que Fernando traz para sua obra, é a parte social da linguagem, uma espécie de acordo coletivo a que todos se submetem para comunicar com o outro. Não deixa de ser impactante que uma língua de boi tenha servido, literalmente, de modelo àquelas peças de porcelana assemelhadas a línguas humanas: foi do órgão muscular do animal que Fernando extraiu o molde em gesso a partir do qual as seis “línguas” foram originadas. Do mesmo molde, todavia não idênticas, já que cada língua foi violentamente individualizada.

Recém-saídas do gesso, antes da queima, foram manipuladas com vigor e alta carga expressiva, amassadas, estranguladas com arame, decepadas, machucadas, deformadas. De tão torturadas, algumas só são reconhecíveis pelas atribuições que carregam junto de si, em palavras manuscritas na parede, a carvão: língua-solta, língua-afiada, língua-presa, loboto-língua, língua-muda, língua-com-calo-nas-costas. Poderia a sobreposição de gestualidades do ato de nomear converter cada língua em voz, numa junção de vozes resistentes ao silenciamento, como a restituir algo da alusão ao humano que se perdera, e sempre se perderá, na violência?

 

Liliane Benetti

bottom of page